O golpe jogou a política brasileira no vale tudo
A indicação de ministros é, diz a lei, uma
prerrogativa do presidente. Quando Dilma indicou Lula para a Casa Civil, Gilmar
Mendes proibiu a posse com a alegação de que o único objetivo seria dar a ele
um foro privilegiado. Foi um abuso – mais um – do coronel da praça dos Três
Poderes. No caso de Lula, há muito circulava a ideia de que colocá-lo na
articulação política do governo era a única forma de salvar Dilma do
impeachment. Foi por isso que sua nomeação causou alvoroço na oposição; e não
há dúvida de que foi por isso que Gilmar, em seu papel de conspirador golpista,
sustou a posse.Mesmo que não houvesse essa percepção, não havia motivo para
impedir a nomeação. Se a escolha dos auxiliares diretos é uma prerrogativa do
presidente, não cabe questioná-la. É difícil perscrutar com segurança quais são
suas intenções subjetivas. Ele que arque com o desgaste político, quando for o
caso. A decisão de Gilmar, no entanto, abriu as portas para outras
contestações. Um juiz de São Paulo tentou sustar uma nomeação de Alckmin porque
viu que o cargo no secretariado estava sendo dado em troca de apoio à
candidatura de Doria nas eleições municipais: “desvio de função”. Depois, a
nomeação de Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência (recriada
especialmente para abrigá-lo) ficou em suspenso, pelo mesmo motivo de Lula. Em
suspenso, mas sem grande suspense; o STF camarada, como esperado, acabou
decidindo em favor do angorá. O problema da nomeação de Moreira, a meu ver, não
estava na busca do foro privilegiado, mas na identidade de quem o nomeou.
Nenhum ministro nomeado por Temer é legítimo, pelo fato de que ele não possui
legitimidade para ocupar o cargo onde está. Agora, a Medida Provisória que
recriou a Secretaria-Geral da Presidência venceu sem ter sido aprovada pelo
Congresso. Temer simplesmente a reeditou, em ofensa direta ao artigo da
Constituição que proíbe a reapresentação de MP’s. Não se trata mais de suposto
desvio de função, mas de flagrante inconstitucionalidade. Não que isso importe.
O golpe jogou a política brasileira no vale tudo e é nesse terreno, o mais
favorável a ele, que o governo Temer se movimenta.
por
Luis Felipe Miguel
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