Brasil Sanguinário
Quando Bolsonaro elogiou a tortura e Brilhante Ustra como herói da
pátria, e a dita sociedade democrática ficou em silêncio, acendeu-se o sinal
vermelho.
Quando Moro disse que medidas de exceção eram necessárias porque o
Brasil vivia um momento excepcional, era o fim da Constituição, da hierarquia
jurídica e era a abertura da janela para um regime de exceção.
Quando Guedes diz que a esquerda tem cabeça mole, coração mole e a
direita tem a cabeça e coração duros, ele define a essência diferencial entre
esses seres humanos.
Quando o presidente da Vale vai ao Congresso Nacional, todos os
presentes fazem um momento de silêncio em pé pelos mortos de Brumadinho, e ele
permanece sentado, ele declara que a Vale não tem mesmo qualquer interesse nos
seres humanos, inclusive porque já fizera uma projeção de todos os custos do
rompimento, inclusive o cálculo das possíveis vidas a serem ceifadas.
Quando o Bope do Rio encontra 20 “jovens bandidos” num quarto e
executa 15 friamente, certamente com uma
bala na cabeça, ao gosto do governador Witzel, já é a prática da execução
sumária proposta pelo presidente e referendada juridicamente por Sérgio Moro.
Enfim, a volta do Esquadrão da Morte.
Quando um deputado do PSL propõe uma lei que permita extrair os órgãos
dos “bandidos mortos”, cria uma ligação satânica entre execução sumária e
comercialização de cadáveres.
Não, essa não é uma diferença entre direita e esquerda. É a diferença
entre a civilidade e a total arbitrariedade.
Não esperemos dessas pessoas qualquer sentimento humano, qualquer sinal
de respeito pelo outro, qualquer arrependimento, qualquer remorso. O ser humano
pode, sim, habituar-se ao pior de si mesmo. Efetivamente, podem até ter cabeça
dura, mas, ao gosto de Jesus, têm o coração de pedra.
A única realidade mortal dessas pessoas é a conta bancária. Aí que está
a bala de prata. Aí está seu calcanhar de Aquiles. A possibilidade de levar um
tiro bem dado nas suas contas bancárias os deixa apavorados. Esse é o único
medo que eles têm, a única morte que eles temem.
Roberto Malvezzi (Gogó)
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